Segmentar sem Perder: Estratégias para Crescer Preservando a Essência da Marca

Introdução – O Dilema da Expansão: Crescer sem Romper com sua Base

Nos últimos anos, a segmentação de mercado voltou ao centro do debate estratégico. Com consumidores cada vez mais fragmentados, hiperconectados e conscientes de seu poder, empresas enfrentam um desafio delicado: como crescer para novos públicos sem romper com os clientes que sustentaram sua trajetória até aqui. Esse dilema — entre a expansão necessária e a preservação da base — exige mais do que técnicas clássicas de marketing: demanda sensibilidade estratégica e compreensão profunda das relações entre segmentos.

Tradicionalmente, segmentar significava dividir o mercado em grupos relativamente homogêneos com base em variáveis demográficas ou psicográficas. Mas esse modelo, embora útil em contextos de comunicação, falha ao orientar decisões estratégicas como inovação, posicionamento, extensão de portfólio ou precificação. Como observou Daniel Yankelovich ainda em 1964, segmentar por idade ou renda muitas vezes explica menos o comportamento do consumidor do que seus valores, funções buscadas e atitudes em relação ao produto.

Décadas depois, essa crítica se mostra ainda mais pertinente. Estudos mais recentes, como o de Hamilton e Wilson (2025), revelam que o problema não é apenas “quem” está em cada segmento, mas como esses segmentos se relacionam entre si. A busca por novos públicos pode gerar conflitos simbólicos, funcionais ou identitários com a base já consolidada — e, se mal gerida, essa tensão pode resultar em perda de reputação, alienação da clientela fiel e erosão de valor da marca.

Este artigo parte dessa premissa: não basta descobrir novos segmentos; é preciso entender suas relações com os segmentos já existentes. A partir do modelo relacional de segmentação proposto por Hamilton e Wilson (2025) — que identifica comunidades separadas, conectadas, incompatíveis e de relação líder-seguidor — propomos uma releitura crítica da segmentação, integrando contribuições de Yankelovich, Meer, Guillén, Bayer e Gavett.

Nos capítulos a seguir, revisitaremos a evolução da segmentação, criticaremos seus desvios contemporâneos, exploraremos os tipos de conflito entre segmentos e apresentaremos um modelo integrado que combina comportamento, valor, funcionalidade e relação intersegmentar. Nosso objetivo é oferecer às organizações um guia estratégico para segmentar com mais consciência, eficácia e sustentabilidade.

Capítulo 1 – A Evolução da Segmentação: Dos Dados ao Significado

A segmentação de mercado sempre foi uma ferramenta essencial para aproximar empresas de seus públicos. Desde os primórdios do marketing moderno, ela permitiu compreender que nem todos os consumidores têm as mesmas necessidades, preferências ou comportamentos — e que abordagens genéricas tendem a ser ineficientes. Contudo, à medida que os mercados evoluíram, também mudou o que significa segmentar de forma eficaz.

Da Segmentação Demográfica ao Psicográfico-Descritivo

No início, predominavam os critérios demográficos: idade, sexo, renda, região geográfica. Essa abordagem, embora simples e operacional, pressupunha que tais variáveis seriam bons preditores de consumo. De fato, durante muito tempo, isso foi suficiente para orientar ações de marketing massivo, sobretudo na era da mídia de massa e dos produtos padronizados.

A partir da década de 1960, entretanto, pesquisadores como Daniel Yankelovich perceberam que variáveis como “homens entre 25 e 34 anos” já não explicavam o comportamento de compra de maneira satisfatória. Em seu artigo seminal New Criteria for Market Segmentation (1964), ele alertou para os limites da demografia e propôs uma segmentação baseada em valores, atitudes e finalidades de uso, ou seja, o porquê do consumo. Um consumidor poderia ter alta renda, mas buscar apenas soluções descartáveis. Outro, com o mesmo perfil, poderia valorizar durabilidade, estética ou simbolismo. A demografia falhava em distinguir essas motivações.

Essa virada levou ao crescimento da segmentação psicográfica, na tentativa de capturar estilos de vida, aspirações e posicionamentos pessoais. Termos como “hedonista urbano”, “tradicionalista racional” ou “tecnófilo experimental” passaram a povoar relatórios de agências e apresentações de marketing. O problema, como posteriormente argumentaria o próprio Yankelovich (com David Meer, em 2006), é que esse tipo de classificação se afastou do seu propósito original: orientar decisões estratégicas com base em comportamentos reais. A segmentação havia se tornado, nas palavras dos autores, uma “atividade de criação de personagens”, mais útil para comerciais do que para estratégia de negócios.

A Virada Comportamental e Funcional

À medida que os dados digitais se tornaram abundantes, o campo da segmentação passou por nova mutação. Surgiram modelos baseados em comportamento de compraintensidade de usofidelidademigração entre marcas e resposta a estímulos de preço. A ênfase voltou-se para o que os consumidores fazem, não apenas o que dizem sobre si mesmos.

Ao mesmo tempo, ganhou força a ideia de segmentar a partir das funções que os produtos cumprem na vida das pessoas. No modelo dos jobs to be done, defendido por Clayton Christensen e retomado por Bayer e Taillard (2013), a segmentação parte da premissa de que os consumidores não compram produtos, mas soluções para tarefas específicas. Um mesmo consumidor pode comprar o mesmo produto para usos completamente diferentes em contextos distintos — e é a função, não a identidade, que orienta suas decisões.

Quando Segmentar Falha: O Desvio de Propósito

Apesar dessa evolução conceitual e tecnológica, muitas organizações ainda utilizam segmentações que são pouco acionáveisexcessivamente genéricas ou irrelevantes para a tomada de decisão. Como alerta Gavett (2014), segmentar só faz sentido se a empresa tiver clareza sobre duas perguntas fundamentais:

  1. Por que queremos segmentar?
  2. Que decisões vamos tomar com base nisso?

Quando essas respostas não são claras, a segmentação torna-se um exercício superficial — ou pior, um fator de risco estratégico.

Conclusão do Capítulo

A história da segmentação é a história de um instrumento poderoso, mas frequentemente mal utilizado. Ela passou da demografia ao estilo de vida, do estilo de vida ao comportamento e da identidade à função. Em todos os casos, o desafio permanece: traduzir diferenças reais entre consumidores em decisões concretas para marcas, produtos e estratégias.

Nos próximos capítulos, aprofundaremos esse desafio a partir de um novo prisma: como os segmentos se influenciam entre si e como isso pode gerar (ou mitigar) tensões quando buscamos o crescimento.

Capítulo 2 – Segmentar Para o Crescimento: Teoria e Prática

A segmentação de mercado é frequentemente tratada como uma ferramenta descritiva: divide-se o mercado, nomeiam-se os grupos e se constrói uma estratégia de comunicação para cada um. Mas essa visão reduzida — focada apenas em “falar com o público certo” — negligencia o que realmente faz da segmentação uma alavanca estratégica: sua capacidade de guiar decisões sobre onde competir, como crescer e o que desenvolver. Neste capítulo, exploramos como segmentações mal definidas levam a decisões ineficazes, enquanto segmentações bem formuladas permitem à empresa crescer de forma sustentável e relevante.

Segmentar para Comunicar vs. Segmentar para Decidir

Yankelovich e Meer (2006) destacam que muitas segmentações contemporâneas foram capturadas pelo mundo publicitário. Criam-se arquétipos — “o inovador digital”, “a mãe multitarefa”, “o tradicionalista cético” — que funcionam bem em narrativas publicitárias, mas pouco ajudam quando o objetivo é tomar decisões como:

Essas decisões não podem ser fundamentadas apenas em traços psicográficos ou estilo de vida. Elas exigem compreensão de comportamento atualvalor de vida útil do cliente (LTV)custos de aquisiçãopropensão à mudança, entre outras variáveis concretas.

O Enfoque Estratégico: Segmentação que Informa o Negócio

Para segmentar de forma verdadeiramente estratégica, três princípios são centrais:

  1. Segmentar com um problema estratégico em mente

Antes de começar qualquer segmentação, a organização precisa definir: qual decisão precisa ser tomada? Isso pode incluir:

A segmentação ideal será aquela que revela diferenças relevantes entre os grupos para tomar essa decisão — e não uma que apenas “pareça interessante”.

  1. Basear-se no comportamento real e na função desempenhada

Segmentações eficazes estão ancoradas em dados comportamentais observáveis (uso, frequência, valor gasto, canal preferido) e/ou nos jobs to be done, isto é, o que o cliente quer resolver com a solução. Isso permite prever ações futuras — algo que perfis psicográficos raramente fazem.

  1. Atualizar a segmentação conforme o mercado evolui

Segmentos não são estáticos. Mudanças tecnológicas, sociais e culturais alteram rapidamente a forma como consumidores agem e pensam. A pandemia, por exemplo, redefiniu comportamentos inteiros de compra em poucos meses. Segmentações baseadas em dados antigos ou traços fixos perdem rapidamente sua utilidade.

Critérios Técnicos para Segmentações Eficazes

Gavett (2014) sintetiza seis critérios fundamentais para julgar a qualidade de uma segmentação. Ela deve ser:

 

CritérioSignificado
IdentificávelÉ possível reconhecer quem está em cada segmento?
SubstancialO segmento é grande o suficiente para justificar ações específicas?
AcessívelPodemos alcançar esse público por canais viáveis?
EstávelO segmento permanecerá consistente por tempo suficiente para ser trabalhado?
DiferenciávelOs segmentos têm diferenças claras de comportamento ou necessidade?
AcionávelPodemos criar produtos, serviços ou estratégias distintos para cada grupo?

Se a segmentação falha em um ou mais desses pontos, ela provavelmente será pouco útil na prática.

Quando a Segmentação Estratégica Falha

Um exemplo revelador vem do caso da HomeAirCo (Meer & Yankelovich, 2006), que contratou uma consultoria para criar personagens publicitários baseados em cinco arquétipos. Apesar da criatividade da campanha, todos os segmentos tinham exatamente o mesmo número de clientes da marca — o que não ajudou em nada a decidir quem deveria ser priorizado para upsell, retenção ou inovação. A empresa segmentou para comunicar, não para decidir.

Segmentar para Crescer: O Que Isso Significa?

Em mercados saturados e competitivos, o crescimento exige identificar novos segmentos promissorescriar produtos específicos para eles e reconfigurar a estratégia sem perder o core da marca. Isso só é possível com segmentações que:

É aqui que entrará o diferencial do artigo: mostrar que o crescimento sustentável não depende apenas de quem você escolhe atrair, mas de como esses novos segmentos se relacionam com os antigos — e que tensões surgem dessas relações.

Conclusão do Capítulo

Segmentar para crescer exige mais do que conhecer o público: exige compreender quais públicos valem a pena serem conquistados, com que recursos, e quais riscos essa escolha implica. No próximo capítulo, vamos explorar em profundidade o modelo de Hamilton & Wilson (2025), que oferece uma nova lente sobre a segmentação: não quem o segmento é, mas como ele se relaciona com os outros.

Capítulo 3 – O Modelo Relacional de Segmentos

A maioria das segmentações concentra-se em uma única dimensão: o que define os grupos de clientes. Mas em um cenário onde marcas convivem com audiências múltiplas — muitas vezes com valores e expectativas em choque — entender quem é cada segmento não basta. É preciso compreender como esses segmentos se influenciam mutuamente.

O artigo de Hamilton e Wilson (2025) propõe uma mudança radical: tratar a segmentação não apenas como uma divisão do mercado, mas como um mapa de relações entre grupos de consumidores. O centro do modelo é a ideia de que o sucesso (ou o fracasso) ao atrair novos públicos depende diretamente do tipo de relação que eles têm com os públicos existentes. Segmentar, aqui, deixa de ser apenas sobre “alvo” e passa a ser também sobre dinâmica social, simbólica e emocional entre segmentos.

As Duas Dimensões do Modelo Relacional

Segundo os autores, a interação entre segmentos pode ser classificada a partir de duas dimensões fundamentais:

  1. Tipo de valor que os segmentos buscam:
    • Valor divergente: cada grupo busca algo distinto da marca (ex: um compra pela performance, outro pelo status).
    • Valor colaborativo: o valor de um grupo depende do envolvimento do outro (ex: compradores e vendedores no eBay).
  2. Sensibilidade entre segmentos:
    • Indiferentes: os segmentos não se importam com quem mais consome a marca.
    • Influenciáveis: os segmentos se importam com quem mais consome a marca — e isso pode gerar atração ou rejeição.

Essas dimensões combinadas resultam em quatro tipos de relação intersegmentar, cada uma com riscos e oportunidades distintas.

Os Quatro Tipos de Relação Entre Segmentos: Como Crescer com Inteligência Relacional

Segundo Hamilton e Wilson (2025), todo esforço de segmentação traz consigo uma tensão potencial entre públicos diferentes. Para lidar com isso de forma estratégica, é necessário entender como os segmentos interagem em relação à marca. Essa interação depende de dois eixos fundamentais:

  1. O tipo de valor que os segmentos buscam na marca:
    • Divergente: cada segmento quer algo diferente da marca (ex: performance técnica vs. estilo).
    • Colaborativo: o valor de um grupo depende ou é ampliado pela presença do outro (ex: compradores e vendedores numa plataforma).
  2. O grau de sensibilidade entre os segmentos:
    • Indiferentes: os grupos não se importam com quem mais consome a marca.
    • Influenciáveis: os grupos reagem à presença ou ausência de outros, podendo se atrair ou repelir mutuamente.

A combinação desses dois eixos gera quatro tipos distintos de relação intersegmentar, com implicações práticas diretas para o crescimento de marcas. A seguir, detalhamos cada um:

  1. Comunidades Separadas (Valor Divergente + Baixa Sensibilidade). Como funciona:

São segmentos que consomem a marca por razões muito diferentes, mas não se importam com quem mais a consome. O que os atrai são atributos distintos — e coexistem sem se afetarem. Exemplo:

A Nike atende simultaneamente:

Esses públicos buscam coisas diferentes, mas não se incomodam com a existência dos demais.

Estratégia para marcas:

Bom caminho para crescer sem risco de ruptura, desde que a marca aceite a complexidade operacional de atender a múltiplos públicos com propostas paralelas.

  1. Comunidades Conectadas (Valor Colaborativo + Baixa Sensibilidade). Como funciona:

Os diferentes segmentos adicionam valor uns aos outros pela própria presença. Mesmo que não interajam diretamente, a marca torna-se mais útil quanto mais grupos participam. Exemplo:

O LinkedIn é valioso porque:

Quanto maior e mais diverso o ecossistema, mais útil a rede se torna para todos — mesmo que esses grupos não compartilhem objetivos.

Estratégia para marcas:

Altamente escalável, desde que a marca mantenha qualidade e propósito claro para todos os segmentos.

  1. Segmentos Líder–Seguidor (Valor Colaborativo + Alta Sensibilidade). Como funciona:

Um grupo (o líderconcede prestígio, status ou validação ao outro (o seguidor), que consome a marca porque admira ou deseja se aproximar do líder. Aqui, a influência simbólica é central. Exemplo:

A Le Creuset é usada por chefs profissionais (líderes).
Públicos domésticos (seguidores) compram o produto por quererem cozinhar como os profissionais — mesmo que nunca usem metade dos recursos da panela.

Estratégia para marcas:

Grande potencial de crescimento via efeito aspiracional, mas risco alto se o grupo líder for ignorado ou se afastar.

  1. Segmentos Incompatíveis (Valor Divergente + Alta Sensibilidade) Como funciona:

Os segmentos querem coisas diferentes da marca e reagem negativamente à presença do outro. O que atrai um grupo pode afastar o outro — por valores, identidade ou simbologia. Exemplo:

A Kohl’s tentou atrair um novo público com produtos premium, diminuindo a oferta de itens baratos que sustentavam sua base tradicional. Resultado: perdeu clientes fiéis sem atrair os novos.

Estratégia para marcas:

Crescer nesse cenário exige estratégia cirúrgica. Caso contrário, a marca pode sofrer erosão de reputação e perda de base.

Resumo das Estratégias por Tipo de Relação

 

Tipo de RelaçãoRisco de ConflitoEstratégia Central
Comunidades SeparadasBaixoDiferenciar ofertas e comunicações
Comunidades ConectadasBaixoExpandir ecossistema com clareza de propósito
Líder–SeguidorMédio-AltoFortalecer e preservar o grupo líder
Segmentos IncompatíveisAltoSeparar canais, produtos ou até marcas

Por que isso importa?

A grande inovação do modelo relacional é mostrar que segmentar não é apenas “atrair o novo”, mas “preservar o que já existe”. Ao ignorar como os segmentos interagem, muitas empresas criam rupturas simbólicas irreparáveis.

Empresas como Bud Light, WeightWatchers e até a Sephora enfrentaram reações negativas ao reposicionar-se para novos públicos sem considerar os vínculos emocionais, culturais ou simbólicos com seus clientes originais.

Como usar o modelo na prática

Antes de perseguir um novo segmento, as marcas devem se perguntar:

  1. O valor que esse novo público busca é compatível com o da base atual?
  2. Esses segmentos se observam e se influenciam?
  3. Há risco de o novo grupo “desvalidar” a marca perante o grupo tradicional?
  4. Existe uma forma de atender ambos sem gerar tensão?

A resposta a essas perguntas define se a marca pode crescer com segurança ou se precisará reconfigurar sua arquitetura de marcaseparar canaisdiferenciar ofertas — ou até mesmo recuar da iniciativa.

Conclusão

O modelo relacional nos ensina que segmentar para crescer exige mais do que mirar novos públicos — exige respeito às conexões simbólicas entre os grupos. Crescimento sem estratégia relacional pode significar não só o fracasso da expansão, mas a destruição da própria base. Compreender essas relações é o primeiro passo para fazer escolhas conscientes sobre onde crescer, como crescer e — principalmente — o que não fazer.

Capítulo 4 – Conflitos entre Segmentos: Fontes e Soluções

Toda marca que cresce inevitavelmente enfrenta tensões entre públicos. Crescer significa incluir novas vozes, novos valores e novas expectativas — mas também correr o risco de romper com vínculos simbólicos consolidados. Quando diferentes segmentos da base de clientes possuem visões, comportamentos e percepções incompatíveis, a segmentação mal planejada pode gerar rejeição, boicotes, abandono da marca e crise de identidade.

Este capítulo explora as principais fontes de conflito intersegmentar e apresenta estratégias para que as marcas antecipem, mitiguem ou superem essas tensões, com base no framework relacional de Hamilton & Wilson (2025) e nas contribuições de autores como Yankelovich, Meer e Guillén.

Por que os conflitos entre segmentos ocorrem?

Embora muitos gestores acreditem que “mais público = mais sucesso”, isso só é verdade quando os públicos podem coexistir em paz. O problema é que segmentos diferentes nem sempre compartilham:

Essas diferenças, quando não reconhecidas, podem gerar conflitos que prejudicam tanto os novos esforços quanto a base existente. Hamilton & Wilson identificam quatro principais fontes de conflito:

1. Conflito Funcional

Quando um grupo atrapalha o uso ideal do produto ou serviço por outro grupo.

Exemplo:

A Starbucks, inicialmente um “terceiro lugar” para relaxar, passou a atrair um grande público de clientes apressados, buscando apenas conveniência. Isso criou atritos com os frequentadores originais que valorizavam a experiência tranquila — gerando insatisfação com filas, ruídos e mudanças no ambiente.

Soluções:

2. Conflito Simbólico

Quando a presença de um novo grupo compromete a identidade percebida da marca por outro grupo.

Exemplo:

A marca de luxo Burberry enfrentou forte reação quando sua estética começou a ser associada a públicos jovens e de classe trabalhadora (“chav culture”), o que levou consumidores tradicionais a se afastarem da marca. Soluções:

3. Conflito Aspiracional Reverso

Quando a marca é vista como menos “aspiracional” após se tornar acessível a outros grupos. Exemplo:

Marcas que foram símbolos de exclusividade podem perder sua aura ao se tornarem populares demais. Alguns clientes abandonam não por insatisfação funcional, mas porque não querem compartilhar o símbolo com “qualquer um”. Soluções:

4. Conflito de Expectativas Estratégicas

Quando o novo público traz expectativas diferentes daquelas que a marca tradicionalmente entrega. Exemplo:

WeightWatchers sofreu críticas quando reposicionou sua marca para se afastar do conceito de “emagrecimento” e aproximar-se de temas como bem-estar e aceitação corporal. Parte de sua base tradicional sentiu-se traída por ver a missão histórica da marca diluída. Soluções:

Estratégias Gerais para Mitigar Conflitos

Com base nos casos discutidos, podemos estruturar um conjunto de ações práticas para prevenir ou mitigar conflitosentre segmentos:

 

EstratégiaQuando Usar
Arquitetura de marcas múltiplasQuando segmentos são incompatíveis simbólica ou funcionalmente.
Segmentação de canais ou experiênciasQuando há conflito funcional ou de ritmo de consumo.
Subprodutos ou linhas paralelasPara acomodar públicos com aspirações, valores ou orçamentos distintos.
Comunicação segmentada e coerentePara evitar ruído de mensagem entre públicos distintos.
Escuta ativa e testes pilotoAntes de mudanças bruscas de posicionamento ou portfólio.
Fidelização da base tradicionalSempre que houver expansão, para reforçar o vínculo com quem já é cliente.

Conclusão do Capítulo

Conflitos entre segmentos não são acidentes — são consequências previsíveis da segmentação mal orientada. Toda expansão precisa ser acompanhada de sensibilidade relacional e estratégia simbólica. Mais do que crescer, marcas precisam crescer sem perder quem já confia nelas. E isso requer reconhecer que cada segmento é também um universo de sentidos e expectativas.

No próximo capítulo, apresentaremos um modelo integrado de segmentação estratégica que une comportamento, valor funcional, aspirações simbólicas e relações intersegmentares — oferecendo um caminho mais completo e seguro para decisões de crescimento.

Capítulo 5 – Além dos Rótulos: A Queda das Gerações e o Surgimento do “Pós-segmento”

A segmentação por gerações foi, por décadas, um atalho popular para entender comportamentos de consumo. Conceitos como “Baby Boomers”, “Geração X”, “Millennials” e “Gen Z” tornaram-se parte do vocabulário cotidiano das equipes de marketing, guiando campanhas, designs e até a cultura organizacional de empresas inteiras. No entanto, como aponta Mauro Guillén (2024) em seu artigo The Future of Marketing Is Intergenerationalessa lógica geracional está cada vez mais desatualizada, imprecisa e contraproducente.

Este capítulo propõe uma ruptura com a obsessão geracional e a construção de uma nova lógica de segmentação: pós-geracional, individualizada e orientada por dados e valores reais.

A Fragilidade do Enquadramento Geracional

Segmentar por geração pressupõe que indivíduos nascidos em uma determinada faixa etária compartilham valores, comportamentos e expectativas. Mas a realidade mostra que diferenças dentro de uma geração muitas vezes são maiores do que entre gerações distintas.

Exemplo:

Um millennial branco, urbano e universitário vivendo em São Paulo pode ter comportamentos e preferências de consumo radicalmente diferentes de um millennial negro, periférico e informal vivendo no interior da Bahia — mesmo sendo da “mesma geração”. Além disso, pesquisas mostram que:

O Custo Estratégico da Segmentação Geracional

A segmentação geracional traz riscos claros para as marcas:

  1. Estereotipação e simplificação excessiva, levando a mensagens genéricas e ineficazes;
  2. Ignorar públicos valiosos, como os consumidores com mais de 60 anos — cuja renda é estável e em crescimento, mas frequentemente excluídos da publicidade;
  3. Falta de relevância: jovens não querem mais ser definidos como “Gen Z” — querem ser reconhecidos como indivíduos.

Caso emblemático:

O mercado automotivo continua a retratar o comprador típico como um jovem descolado, apesar de quase metade dos carros novos nos EUA serem comprados por pessoas acima dos 50 anos. Resultado? Desconexão com o público real e perda de efetividade publicitária.

Pós-segmentação: O Futuro Baseado em Dados, Contexto e Valores

Ao invés de rotular as pessoas por idade, o novo paradigma propõe segmentá-las por:

“Não há um consumidor Gen Z, há um estudante de 20 anos que valoriza agilidade, mobilidade e propósito — e outro que prefere tradição, estabilidade e exclusividade.”

Essa abordagem é mais precisa, responsiva e permite que marcas construam identidades ageless, baseadas em propósito e experiência, não em idade.

O Poder do Marketing Intergeracional

Guillén propõe não apenas abandonar os rótulos geracionais, mas também usar a intergeracionalidade como força de coesão:

Estratégias intergeracionais:

🛠 Como Construir uma Marca Pós-geracional

 

Ação EstratégicaDescrição
Abandonar arquétipos geracionaisEvitar generalizações e estereótipos baseados em idade.
Focar em valores e motivações reaisUsar dados para entender o que realmente importa para o consumidor.
Desenhar experiências individualizadasUtilizar dados comportamentais para adaptar produtos e comunicações.
Assumir diversidade dentro de cada idadeReconhecer múltiplas identidades coexistindo em cada faixa etária.
Incluir o público 60+ nas estratégiasTratar consumidores mais velhos como ativos, modernos e relevantes.

Conclusão do Capítulo

As gerações, como categorias de segmentação, estão se tornando anacrônicas. Em um mundo orientado por dados, movido pela personalização e marcado por complexidade social crescente, rótulos simples produzem decisões erradas. O futuro do marketing — e da segmentação — está na compreensão contextual do indivíduo, na criação de marcas ageless e na valorização dos pontos de contato entre diferentes públicos, e não na sua separação artificial.

No próximo capítulo, propomos um modelo integrado de segmentação estratégica, capaz de alinhar comportamento, valor funcional, relações simbólicas e conexões intersegmentares — um caminho prático para segmentar melhor e crescer com mais consciência.

Capítulo 6 – Novos Paradigmas: Segmentação por Valor, Função e Comportamento

A segmentação estratégica, tal como praticada por muitas organizações, ainda se baseia em rótulos frágeis e categorias genéricas — como idade, gênero, classe social e localização. Embora úteis para ações operacionais, essas categorias explicam pouco sobre o que realmente motiva o consumidorcomo ele percebe valorem que contexto utiliza o produto e como se relaciona com outros segmentos.

Neste capítulo, propomos um modelo ampliado de segmentação que integra quatro dimensões fundamentais: comportamento, valor funcional, valor simbólico e relações intersegmentares. Essa abordagem multidimensional busca oferecer às marcas ferramentas mais ricas e atualizadas para crescer com coerência, relevância e sustentabilidade.

1. Segmentação por Comportamento Real

Ao invés de inferir o que o consumidor quer a partir de suas características demográficas, o novo paradigma começa pela observação do comportamento:

Esses dados, coletados por sistemas CRM, plataformas digitais e pesquisas etnográficas, permitem segmentar com base em atitudes e padrões de ação concretos — muito mais confiáveis do que autorrelatos ou inferências demográficas.

2. Segmentação por Função e Uso (Jobs to Be Done)

Inspirado por Clayton Christensen e outros pensadores da inovação, o modelo de “jobs to be done” propõe que os consumidores não compram produtos — contratam soluções para realizar tarefas específicas em suas vidas. Exemplos:

Todos compram “o mesmo produto”, mas por razões totalmente diferentes. Conhecer a função desejada, e não apenas o perfil do comprador, é essencial para segmentar com precisão e inovar com propósito.

3. Segmentação por Valor Simbólico

Produtos e marcas carregam significados que transcendem sua utilidade prática. Roupas, carros, eletrônicos, alimentos e até mesmo aplicativos comunicam identidade, status, valores e aspirações. Nesse sentido, segmentar significa entender:

Marcas como Harley-Davidson, Apple ou Patagonia criam valor não apenas por desempenho, mas por significados compartilhados com suas tribos. Nesse modelo, segmentar implica mapear comunidades simbólicas, não apenas clusters de consumo.

4. Segmentação por Relação Intersegmentar

Como explorado no Capítulo 3, os segmentos não existem isoladamente. Eles coexistem, colidem ou colaboram dentro do ecossistema da marca. Ignorar essas interações pode levar a conflitos estratégicos e perda de valor. Integrar essa dimensão significa:

Como Integrar as Quatro Dimensões?

A proposta é ir além do “modelo linear” de segmentação (perfil → mensagem) e adotar uma abordagem matricial e relacional:

 

DimensãoPergunta-chaveExemplo estratégico
ComportamentoO que a pessoa faz de fato?Cross-sell baseado em padrão de uso
Função/JobO que ela quer resolver com isso?Criação de versões por contexto (ex: viagem)
Valor SimbólicoO que isso comunica sobre ela?Design e storytelling alinhados com tribos
Relação SegmentarQuem mais consome e como isso afeta a percepção?Estratégia de portfólio e canais diferenciados

Essa matriz permite construir segmentos vivos, dinâmicos e estrategicamente posicionados, que respeitam não só o consumidor individual, mas também a ecologia simbólica e relacional do mercado.

Resultados Esperados com a Nova Segmentação

Marcas que adotam esse modelo tendem a:

Conclusão do Capítulo

A nova segmentação não substitui a antiga apenas por ser mais “moderna” — mas porque responde melhor aos desafios contemporâneos de complexidade, personalização e relacionamento. Ao integrar comportamento, função, símbolo e relação, ela oferece um mapa mais completo para entender, servir e respeitar os múltiplos públicos que uma marca deseja alcançar. E mais do que isso: oferece um caminho para crescer sem se fragmentar.

No próximo e último capítulo, apresentamos recomendações práticas para que as organizações repensem suas estratégias de segmentação e avancem rumo a um marketing mais relacional, ético e eficaz.

Capítulo 7 – Recomendações Finais: Segmentar com Consciência Estratégica

Ao longo deste artigo, propusemos uma reavaliação profunda do modo como as empresas segmentam seus mercados. O crescimento organizacional não pode mais se apoiar em fórmulas simples ou em categorias demográficas herdadas. Em um cenário onde consumidores exigem relevância, coerência e autenticidade, segmentar exige mais do que dividir — exige compreender e se posicionar com inteligência relacional.

Este capítulo final apresenta um conjunto de recomendações estratégicas para orientar organizações que desejam segmentar com maior consciência e sofisticação, evitando os erros comuns da expansão desatenta e abraçando um marketing mais sustentável e conectado à realidade contemporânea.

1. Revisite os Fundamentos: Para que segmentar?

Antes de decidir como segmentar, pergunte por que. A segmentação deve ser um instrumento para criar valor mútuo— para o cliente e para a empresa —, não apenas uma ferramenta de clusterização.

2. Entenda profundamente o seu segmento atual

Antes de expandir, mergulhe no que já funciona:

Insight: Ignorar a base existente é o caminho mais rápido para perder identidade.

3. Analise a relação entre segmentos antes de tomar decisões

Use o modelo relacional (Hamilton & Wilson) como bússola:

 

Tipo de RelaçãoEstratégia sugerida
Comunidades separadasArquiteturas de marca ou canais diferentes
Comunidades conectadasSinergias e experiências compartilhadas
Comunidades incompatíveisSeparação clara ou recuo estratégico
Relação líder-seguidorComunicação aspiracional que respeita o grupo dominante

O problema não é crescer. O problema é crescer onde há conflito não gerenciado.

4. Adote uma matriz de segmentação multidimensional

Vá além do perfil e use quatro lentes simultaneamente:

  1. Comportamento real (dados observáveis)
  2. Função buscada (o “job to be done”)
  3. Valor simbólico (identidade e percepção)
  4. Relações entre segmentos (impacto cruzado)

Ferramenta prática: Matriz 4D de segmentação estratégica.

5. Construa marcas “ageless” e transversais

Evite a armadilha das gerações. Em vez disso:

Consumidores não querem ser seus rótulos. Querem ser vistos como inteiros.

6. Use dados para personalizar, mas sem perder propósito

A personalização tecnológica deve ser guiada por uma visão estratégica e ética:

Dados mostram o “como”, mas só estratégia revela o “porquê”.

7. Segmentar também é uma escolha ética

As decisões de segmentação definem:

Segmente com responsabilidade. Em tempos de polarização, desigualdade e vigilância ética crescente, o marketing não pode se eximir das consequências simbólicas e sociais de suas escolhas.

Considerações Finais

Segmentar nunca foi apenas dividir. É escolher com quem a marca deseja se relacionar, que histórias deseja contar e que futuros pretende construir. Ao abandonar os atalhos fáceis e abraçar a complexidade, as organizações ganham algo raro: relevância duradoura.

Não se trata apenas de atrair novos clientes sem alienar os antigos. Trata-se de construir marcas relacionais, conscientes e atentas às conexões que criam ou rompem. E esse é o verdadeiro poder da nova segmentação estratégica.

A segmentação estratégica, quando bem conduzida, é um diferencial competitivo poderoso. Contudo, exige sensibilidade, profundidade analítica e um olhar atento para o que está além das métricas superficiais — é necessário compreender pessoas em seus contextos, valores, aspirações e contradições. E esse processo não se faz por intuição: exige escuta qualificada, coleta de dados estruturada e análise rigorosa.

É nesse ponto que entra o trabalho da Jumppi Inteligência e Pesquisa. Atuando na intersecção entre dados, estratégia e comportamento humano, a Jumppi oferece soluções que ajudam empresas e instituições a compreender melhor seus públicos, mapear territórios simbólicos e identificar oportunidades de crescimento sustentável. Seja por meio de pesquisas qualitativas, análises quantitativas, diagnósticos de posicionamento ou estudos de mercado, a Jumppi transforma dados em decisões.

Mais do que descobrir “quem é o público”, a proposta é responder por que ele se conecta com a marca — e como essa conexão pode evoluir sem rupturas. As pesquisas desenvolvidas pela Jumppi fornecem o alicerce necessário para aplicar com precisão os princípios apresentados neste artigo: segmentar com consciência, crescer com coerência e construir marcas com significado.

Segmentar bem é dialogar melhor. E toda boa conversa começa com escuta.

Como Comunicar Sustentabilidade de Forma Estratégica e Gerar Valor para a Marca

Por que a forma como sua empresa comunica sustentabilidade é decisiva

No atual cenário empresarial, sustentabilidade não é mais uma escolha — é uma exigência. Empresas de todos os setores estão sendo avaliadas não apenas pelo que fazem, mas principalmente por como comunicam suas ações sustentáveis. E esse aspecto da comunicação pode ser o diferencial entre gerar valor ou perder credibilidade.

A boa notícia é: quem comunica bem ganha espaço, confiança e preferência de marca. Quem se cala ou comunica mal, mesmo fazendo o certo, pode sair prejudicado. Então como comunicar Sustentabilidade de forma estratégica e gerar valor para a marca?

O risco de se calar: greenhushing prejudica sua marca

Muitas empresas vêm optando por silenciar suas práticas sustentáveis com receio de críticas ou acusações de greenwashing. Esse comportamento, chamado de greenhushing, parece seguro, mas é um erro estratégico.

Estudos recentes mostram que 70% dos consumidores acreditam que as grandes empresas fazem pouco para enfrentar as mudanças climáticas. Ficar em silêncio gera desconfiança — e pode custar caro em termos de imagem da marca e engajamento do público.

Empresas que comunicam com autenticidade e clareza não apenas geram empatia, mas conquistam mais lealdade de clientesatraem talentos alinhados com seus valores e constroem vantagem competitiva.

Veja também: O marketing e as práticas de ESG

Comunicação sustentável eficaz: os 3 pilares fundamentais

Para que a sustentabilidade seja percebida como um valor real — e não apenas um discurso — a comunicação precisa seguir três pilares:

1. Conheça profundamente seu público

Clientes e colaboradores têm expectativas reais sobre sustentabilidade. Muitos consumidores preferem produtos sustentáveis mesmo pagando mais, e boa parte dos profissionais considera o impacto ambiental da empresa ao aceitar uma vaga.

Ou seja, não basta presumir o que seu público valoriza. É preciso ouvir, pesquisar e entender suas crenças, dúvidas e desejos.

2. Conte histórias reais com emoção e dados

Fatos importam, mas não geram conexão sozinhos. O segredo está em unir dados confiáveis a narrativas humanas, que mostrem por que a empresa faz o que faz.

Marcas como Patagonia ou Dr. Bronner’s evitam termos genéricos como “sustentabilidade” e preferem narrativas simples, diretas e convidativas — mostrando o impacto real de seus produtos e convidando o consumidor a fazer parte da transformação.

3. Vá além do relatório anual

O relatório ESG é importante, mas não basta. A comunicação precisa ser contínua, multicanal e relevante ao longo do ano.

Use vídeos, redes sociais, ações internas, artigos, eventos e até mesmo conteúdo de bastidores. Transforme o ESG em tema do dia a dia, e não apenas de um relatório técnico.

Confira: Tendências em Sustentabilidade Corporativa

Produtos sustentáveis vendem mais — e os dados provam

Uma pesquisa publicada pela Harvard Business Review analisou mais de 10 meses de dados da Amazon. A descoberta foi clara: produtos com o selo “Climate Pledge Friendly” tiveram um aumento de até 14% na demanda nas oito semanas seguintes à certificação, mesmo sem mudanças de preço ou investimento adicional em marketing.

Isso mostra que o simples ato de rotular um produto como sustentável tem efeito direto nas vendas — especialmente quando os atributos sustentáveis são apresentados com clareza e de forma confiável.

Produtos de menor preço se beneficiam de mensagens como “carbono neutro”. Já em segmentos premium, o destaque vai para selos de produção orgânica, ausência de ingredientes tóxicos ou boas práticas de comércio justo.

Confira: Research: Products Labeled as Sustainable Sell Better (Pesquisa: Produtos rotulados como sustentáveis vendem melhor)

Fortalecendo a imagem da marca com sustentabilidade

Além de comunicar bem, é essencial monitorar como sua marca é percebida em relação à sustentabilidade. Isso permite agir rapidamente diante de críticas, aproveitar oportunidades de engajamento e ajustar estratégias com base em dados reais.

Vantagens de monitorar a imagem da marca:

Confira: It’s Time to Update How Your Company Talks About Sustainability (É hora de atualizar como sua empresa fala sobre sustentabilidade)

Estratégia prática: como comunicar sustentabilidade com eficiência

Falar de sustentabilidade de forma estratégica não exige apenas boas intenções — exige método. A seguir, apresentamos um roteiro prático em cinco etapas para guiar sua empresa na construção de uma comunicação eficaz, coerente e relevante sobre suas ações sustentáveis.

Etapa 1 – Diagnóstico: entenda onde sua empresa está

Antes de qualquer campanha ou relatório, é fundamental realizar um diagnóstico claro. Isso significa levantar todas as ações sustentáveis que a empresa já realiza (mesmo que informalmente), mapear as políticas e metas existentes e entender como esses esforços estão sendo percebidos.

O que fazer nesta etapa:

Por que isso importa:
Sem um bom diagnóstico, há risco de comunicar ações que não têm respaldo interno — e isso mina a credibilidade da empresa. Além disso, conhecer o ponto de partida ajuda a construir mensagens mais realistas, envolventes e sustentáveis no longo prazo.

Etapa 2 – Construção da narrativa: transforme dados em histórias que engajam

Depois de saber o que está sendo feito, é hora de definir como contar isso ao mundo. A narrativa deve ser autêntica, coerente com a identidade da marca e conectada aos valores do público. É aqui que os dados ganham alma — por meio de histórias.

O que fazer nesta etapa:

Por que isso importa:
Pessoas se conectam com pessoas, não com números soltos. Uma boa história sobre como a empresa ajudou uma comunidade local ou reduziu drasticamente o desperdício vale mais do que uma lista de certificações desconhecidas.

Etapa 3 – Ativação multicanal: leve sua mensagem para onde seu público está

Com a narrativa estruturada, é hora de colocar a comunicação em prática — de forma contínua, diversa e presente nos canais certos. Não basta publicar um relatório por ano. É preciso manter o tema vivo no dia a dia da marca.

O que fazer nesta etapa:

Por que isso importa:
A coerência e a frequência são cruciais. Não adianta ter uma mensagem linda no site institucional e um discurso raso no ponto de venda. A sustentabilidade precisa estar em todos os pontos de contato com o público.

Etapa 4 – Monitoramento contínuo: acompanhe, aprenda e ajuste

A comunicação não termina com a publicação. O monitoramento da imagem da marca e da repercussão das mensagens é parte essencial da estratégia.

O que fazer nesta etapa:

Por que isso importa:
A reputação é dinâmica. O que foi bem recebido hoje pode ser criticado amanhã. Monitorar permite antecipar riscos, ajustar rotas e manter o diálogo aberto com os públicos estratégicos.

Etapa 5 – Aprendizado e melhoria contínua: sustentabilidade é uma jornada

A última etapa fecha o ciclo: aprender com os resultados obtidos e aprimorar continuamente a estratégia de comunicação.

O que fazer nesta etapa:

Por que isso importa:
Empresas que tratam sustentabilidade como um processo contínuo — e não como uma campanha pontual — constroem uma imagem sólida, resiliente e de longo prazo.

Sustentabilidade que vende, engaja e transforma

Sustentabilidade, quando bem comunicada, é um motor de valor. Empresas que investem em comunicação estratégica e monitoramento contínuo constroem marcas mais fortes, mais admiradas e com maior poder de influência no mercado.

Não se trata apenas de reputação. Trata-se de gerar impacto real, criar conexões duradouras com o público e alavancar resultados concretos — inclusive nas vendas.

A Jumppi está ao lado das organizações que querem transformar sustentabilidade em valor real, com estratégias de pesquisa, posicionamento, marketing ESG e inteligência de marca.

O Futuro Pertence a Quem Reaprende a Ouvir o Cliente

Introdução

Existe um paradoxo central que atravessa o marketing contemporâneo: nunca se produziu tanto dado sobre os consumidores, nunca as ferramentas analíticas foram tão sofisticadas, e, ainda assim, nunca foi tão desafiador compreender genuinamente o cliente. Este paradoxo não é fruto apenas do avanço tecnológico, mas de uma transformação estrutural na própria natureza do consumo, da cultura e das relações entre marcas e indivíduos.

O cliente que emerge no século XXI — representado magistralmente por Stephen Brown em sua provocadora concepção da Geração® — não é apenas mais informado. Ele é autoconsciente. Ele é um consumidor que não apenas consome produtos e serviços, mas que consome também as estratégias de marketing utilizadas para atingi-lo. Trata-se de um consumidor que lê as entrelinhas da comunicação de marca, decodifica os bastidores das campanhas e responde menos ao estímulo direto do que ao jogo simbólico e às relações de poder que as marcas tentam estabelecer.

Este cenário impõe uma reconfiguração profunda dos paradigmas tradicionais do marketing e das vendas. Mais que um ajuste operacional, trata-se de um deslocamento epistemológico: para se relacionar com este novo consumidor, as organizações precisam romper o legado de uma cultura de silos — onde marketing, vendas e pesquisa operam de maneira fragmentada — e inaugurar uma nova ecologia organizacional baseada na inteligência coletiva e na escuta ativa do cliente.

Este artigo parte da premissa de que a verdadeira centralidade no cliente só é possível quando a organização, para além de capturar dados, reconstrói sua capacidade de interpretar, dialogar e aprender com o mercado. E, para isso, integra três pilares fundamentais: 1) uma nova compreensão sobre o comportamento do consumidor (Marketing to Generation®), 2) a superação da cisão histórica entre marketing e vendas (Put the ‘And’ Back in Sales and Marketing), e 3) a ressignificação do papel da pesquisa como função estratégica (The Market Research Encyclopedia).

Mais que justapor esses três referenciais, o desafio é construir um pensamento que compreenda suas complementariedades, tensões e implicações práticas para um mundo em que a vantagem competitiva não nasce mais da superioridade do produto, mas da superioridade da escuta.

1. A Geração® e a Crise das Estratégias Tradicionais de Marketing

Stephen Brown, ao cunhar o termo Geração®, captura com precisão a emergência de um tipo de consumidor que cresce em um ambiente saturado de marcas, publicidade e estratégias de segmentação cada vez mais sofisticadas. Mais do que ceticismo, trata-se de um consumidor armado de repertório crítico, que percebe o marketing como linguagem — e, portanto, como um discurso passível de ser analisado, contestado ou mesmo ironizado.

É neste sentido que Brown sugere que as três grandes estratégias mobilizadas pelas marcas — inclusão, nostalgia e ironia — começam a dar sinais de esgotamento. O que antes operava como mecanismo eficiente de aproximação passa a ser percebido como parte do próprio jogo do marketing. O consumidor da Geração® não rejeita necessariamente a marca — mas rejeita ser tratado como alguém que não percebe o esforço de persuasão que se esconde por trás das promessas publicitárias.

Aqui se encontra um dos pontos mais sofisticados de leitura de Brown: o problema das marcas não está mais na falta de autenticidade, mas na percepção generalizada de que toda autenticidade é construída, roteirizada e performática. Em um mundo onde até a experiência autêntica se torna mercadoria, o consumidor valoriza menos o conteúdo do discurso e mais a honestidade do enunciador quanto ao seu papel no jogo comercial.

Este insight tem implicações profundas: a era da “verdade da marca” cede espaço à era da “transparência radical” — um ambiente em que o cliente tolera ser alvo de marketing, desde que este marketing não tente mascarar suas intenções sob uma falsa neutralidade ou um romantismo corporativo.

E aqui reside o novo espaço estratégico: não se trata mais de conquistar o cliente com narrativas idealizadas, mas de assumir o marketing como um contrato explícito, onde a proposta de valor é apresentada sem subterfúgios.

2. Superando Silos: A Reintegração de Marketing e Vendas como Resposta à Complexidade

Se por um lado a emergência da Geração® desestabiliza o modo tradicional de compreender o consumidor, por outro impõe desafios de ordem organizacional igualmente profundos. Um deles é a histórica fragmentação entre as áreas de marketing e vendas — um divórcio funcional que compromete, muitas vezes de forma irreversível, a capacidade da empresa de entregar experiências coesas, relevantes e responsivas.

O artigo “Put the ‘And’ Back in Sales and Marketing”, publicado pela McKinsey, denuncia com clareza essa disfunção: marketing e vendas, embora voltadas para o mesmo propósito — conquistar, desenvolver e fidelizar clientes —, frequentemente operam a partir de lógicas distintas, métricas desarticuladas e estruturas decisórias assimétricas. Enquanto o marketing se ancora em segmentações, tendências e atributos de marca, as vendas concentram-se em territórios, metas imediatas e relacionamento direto com o cliente. A consequência é um descompasso que não apenas reduz a eficácia das ações, mas erode valor em pontos cruciais da jornada do consumidor.

Reintegrar essas áreas exige mais que alinhamento tático; requer uma refundação da cultura organizacional a partir de três frentes interdependentes: estratégia, dados e experiência do cliente.

Na dimensão estratégica, trata-se de construir uma visão unificada de crescimento, baseada em oportunidades reais de mercado e sustentada por objetivos compartilhados. A noção de micromercados, como defendida no artigo da McKinsey, revela que muitas vezes o maior potencial de expansão está oculto em nichos geográficos ou comportamentais mal explorados — e somente a confluência entre a inteligência analítica do marketing e o conhecimento em campo das vendas pode desvendá-los.

Na dimensão dos dados, é preciso transformar a lógica tradicional de produção e análise de informações. Em vez de gerar relatórios estanques, o marketing deve atuar como um provedor de inteligência contínua, traduzindo dados complexos em guias de ação simples e acionáveis para os times de vendas. A tecnologia, nesse sentido, não é fim, mas meio: dashboards inteligentes, sistemas de CRM responsivos e mecanismos de rastreamento de comportamento precisam estar a serviço de uma narrativa comum, que ajude todos os envolvidos a compreender o que realmente importa para o cliente — e como agir com base nisso.

Finalmente, na dimensão da experiência, a reintegração se realiza na ponta: no contato humano. Em um ambiente omnicanal e fluido, o cliente não separa o que é marketing do que é venda. Ele julga a marca pela coerência entre promessa e entrega, entre discurso e prática. A dissociação entre as áreas, portanto, não é apenas um problema organizacional, mas uma disfunção perceptiva que mina a confiança do cliente e fragiliza o vínculo simbólico com a marca.

O novo imperativo é claro: marketing e vendas precisam abandonar seus territórios e operar como um só organismo — responsivo, centrado no cliente, e, sobretudo, capaz de transformar informação em ação com agilidade e empatia.

3. Pesquisa como Arquitetura de Aprendizado Organizacional

Diante de um consumidor autoconsciente e de uma organização que precisa reaprender a colaborar, a pesquisa de mercado deixa de ser uma função acessória — uma “validação posterior” — para se tornar um eixo estruturante da inteligência organizacional.

Vincent Barabba, em The Market Research Encyclopedia, denuncia o uso recorrente (e disfuncional) da pesquisa como instrumento de confirmação de decisões já tomadas. Em vez de servir como bússola para navegar a incerteza, muitas vezes a pesquisa é utilizada como âncora para validar premissas corporativas, enviesadas pela conveniência estratégica ou pela pressão política interna.

Superar essa distorção exige uma mudança epistemológica: a pesquisa deve ser compreendida como uma plataforma de escuta, aprendizado e adaptação contínua — e não como um ritual de legitimação.

Barabba propõe uma abordagem estrutural, dividida em cinco grandes etapas: identificar necessidades de informação, medir o mercado, armazenar e disponibilizar os dados, analisá-los com profundidade e, por fim, avaliar a utilidade prática do conhecimento gerado. Essa lógica, embora desenhada no contexto industrial dos anos 1990, ganha renovado sentido na era digital, em que os fluxos de dados são contínuos e as decisões precisam ser dinâmicas e adaptativas.

O ponto de virada está em transformar a pesquisa em um ecossistema de conhecimento compartilhado. Isso significa envolver diferentes áreas da organização no processo investigativo, desde a formulação de hipóteses até a interpretação dos resultados. Implica também reconhecer que a pesquisa quantitativa não substitui a escuta qualitativa — que os dados estatísticos precisam ser enriquecidos por narrativas, contextos e percepções.

Mais que gerar respostas, a boa pesquisa de mercado hoje é aquela que gera melhores perguntas. É aquela que ajuda a organização a ver o que ainda não está vendo, a problematizar suas certezas, a descobrir sentidos latentes nos comportamentos de consumo.

O verdadeiro valor da pesquisa não está em prever o futuro, mas em tornar a organização mais preparada para lidar com ele.

4. Implicações Práticas: Quando Ouvir Deixa de Ser Um Verbo Passivo

A reconciliação entre vendas e marketing, aliada a uma postura investigativa genuína, só ganha vida real quando encontra formas operacionais de se traduzir no cotidiano das organizações. O caso da companhia aérea de cargas mencionado no artigo da McKinsey ilustra com clareza essa transição: uma modelagem analítica complexa, desenvolvida pela equipe de marketing, só teve impacto estratégico porque foi traduzida em uma interface simples, inteligível e útil para a força de vendas. Ou seja, o valor não está apenas na sofisticação da análise, mas na sua capacidade de gerar ação.

Essa lição vale para todas as dimensões da estratégia centrada no cliente. Não basta que a organização saiba muito sobre seus consumidores — é preciso que essa inteligência seja friccionada com a experiência de quem está no front e transformada em decisões operacionais, de preferência em tempo real. A centralidade no cliente, portanto, é menos um discurso institucional e mais uma coreografia sistêmica que exige fluidez entre departamentos, humildade intelectual para reaprender e abertura para experimentar.

Casos como o da Caesars, em que dados gerados por beacons e cartões de fidelidade são utilizados para oferecer atendimentos personalizados e contextuais aos hóspedes, demonstram o poder da tecnologia quando bem integrada à sensibilidade humana. O alerta que chega ao celular do atendente com o histórico, preferências e comportamentos do cliente não é apenas uma ferramenta de eficiência — é um sinal de que a empresa entendeu que dados devem ser utilizados para promover empatia, não apenas controle.

Do outro lado do espectro, vemos exemplos de fracasso emblemático: empresas que investem milhões em CRM, automação de marketing e big data, mas falham em transformar esses ativos em relações significativas com seus clientes. A razão? Muitas vezes, ignoram que a sofisticação tecnológica deve ser acompanhada de uma sofisticação relacional: saber ouvir, saber interpretar e saber responder com relevância.

A pesquisa de mercado entra, aqui, como eixo articulador. Ela não deve ser encarada como um relatório ou uma entrega pontual, mas como um dispositivo contínuo de aprendizagem organizacional. Painéis de consumidores, etnografias digitais, análise semiótica de discurso, estudos preditivos e simulações de cenário — todas essas são ferramentas que, quando integradas ao processo decisório, funcionam como alavancas de mudança cultural. Pesquisa não é um fim; é um processo de formação de consciência organizacional.

5. Considerações Finais: Organizações que Sabem Ouvir Serão as que Saberão Sobreviver

Estamos, sem dúvida, diante de uma inflexão histórica nas relações entre marcas e consumidores. A Geração® representa mais do que um perfil demográfico ou psicográfico: ela sintetiza uma nova sensibilidade cultural, em que o consumo é mediado por consciência crítica, ironia e desejo de autenticidade. Tentar alcançar esse público com as ferramentas do passado — baseadas em promessas unilaterais, storytelling manipulativo e estratégias de persuasão opaca — é não apenas ineficiente, mas dissonante com os tempos atuais.

As organizações que desejam se manter relevantes precisam, antes de tudo, reaprender a escutar. Mas escutar de verdade. Isso significa abandonar o marketing como performance de empatia e adotá-lo como prática de escuta radical. Significa que vendas e marketing não podem mais operar como feudos independentes, mas como vértices de uma inteligência compartilhada voltada para o entendimento profundo — e não apenas funcional — do cliente.

E, acima de tudo, significa resgatar o papel da pesquisa como farol epistemológico. Não como um conjunto de tabelas, gráficos e estatísticas, mas como um mecanismo de construção coletiva de sentido. A pesquisa deixa de ser um espelho que a empresa olha para confirmar sua imagem, e se torna uma janela para enxergar o mundo com olhos menos enviesados.

No fim das contas, a vantagem competitiva não estará com as organizações que souberem mais sobre os clientes, mas com aquelas que forem capazes de aprender com eles — continuamente, humildemente, profundamente.

Sobre a Empresa

A Jumppi é um instituto de pesquisa especializado em inteligência de mercado e ciência de dados, com mais de 20 anos de experiência em ajudar empresas a tomar decisões estratégicas baseadas em dados confiáveis.

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