Entender o que os clientes desejam é essencial, mas saber exatamente quando eles precisam é uma vantagem competitiva. Embora muitas organizações possuam dados valiosos em seus sistemas de CRM, a exploração estratégica dessas informações ainda é limitada. Um dos aspectos mais subestimados é a análise das rotinas dos clientes.
De acordo com o estudo Detecting Routines, de Eva Ascarza e colaboradores, “os clientes com rotinas bem estabelecidas possuem maior valor para as organizações”. Esse insight destaca a importância de ir além das segmentações tradicionais baseadas em características demográficas ou comportamentais pontuais. A segmentação por rotina oferece uma perspectiva rica, permitindo que as empresas alinhem suas operações às necessidades previsíveis de seus consumidores.
A Importância dos Clientes Rotineiros
Qual é o perfil ideal de cliente para uma organização? Embora clientes de alto volume sejam atraentes, eles nem sempre garantem fidelidade, frequentemente dividindo suas compras entre concorrentes. Por outro lado, clientes rotineiros mantêm um padrão consistente de consumo, criando oportunidades para previsibilidade e planejamento estratégico.
Estabelecer uma rotina de consumo é um dos maiores desafios no marketing, mas também um dos mais recompensadores. Ao entender profundamente os padrões de compra e os hábitos dos clientes, as organizações podem não apenas antecipar comportamentos, mas também influenciá-los.
Benefícios da Segmentação por Rotina
As informações sobre as rotinas dos clientes podem trazer inúmeros benefícios para as organizações, especialmente no gerenciamento de relacionamento com clientes (CRM) e no desenvolvimento de estratégias de marketing e operações. Aqui estão algumas formas específicas como essas informações podem ser utilizadas:
1. Segmentação e Personalização
- Segmentação mais precisa: Identificar grupos de clientes com rotinas específicas, como trajetos diários para o trabalho ou compras semanais, permite criar clusters baseados no comportamento, indo além de segmentações demográficas ou psicográficas.
- Personalização de ofertas: Empresas podem oferecer promoções ou serviços adaptados às rotinas dos clientes, como descontos em horários ou dias específicos que correspondam ao padrão de consumo.
2. Previsão de Comportamento
- Previsibilidade de demanda: Comportamentos rotineiros permitem prever picos de consumo em horários ou dias específicos, otimizando estoques, alocação de recursos e planejamento logístico.
- Melhoria na retenção: Clientes com rotinas identificadas têm maior chance de serem retidos, pois as empresas podem agir preventivamente caso detectem desvios na rotina, indicando potencial churn.
3. Resiliência e Experiência do Cliente
- Resiliência a falhas: O estudo mostrou que clientes com rotinas estabelecidas tendem a ser mais tolerantes a falhas no serviço. Reconhecendo essas rotinas, as organizações podem priorizar respostas rápidas a incidentes que afetem esses clientes.
- Aperfeiçoamento do serviço: Ao compreender rotinas, as empresas podem otimizar serviços como transporte, entregas ou atendimento, alinhando-se aos horários e preferências dos clientes.
4. Campanhas de Marketing Direcionadas
- Momentos oportunos: Empresas podem usar rotinas para enviar mensagens ou promoções em horários e dias que tenham maior chance de engajamento.
- Construção de lealdade: Criar campanhas que reforcem e recompensem comportamentos rotineirospode aumentar a fidelidade dos clientes.
5. Identificação de Oportunidades de Expansão
- Novos produtos e serviços: A análise de rotinas pode revelar lacunas ou oportunidades, como horários pouco atendidos ou padrões emergentes de comportamento.
- Captação de novos clientes: Entender rotinas permite direcionar esforços para capturar clientes que tenham comportamentos semelhantes aos dos clientes existentes.
6. Decisões Estratégicas
- Aprimoramento de preços: Conhecer as rotinas permite ajustar preços dinamicamente, como oferecer tarifas mais altas em horários de alta demanda para clientes menos sensíveis ao preço, ou descontos em períodos de menor uso.
- Eficiência operacional: Empresas podem reorganizar operações, como alocação de veículos no compartilhamento de viagens, com base nas rotinas de deslocamento dos clientes.
Como pode ser feita a segmentação por rotina?
A segmentação por rotina exige a coleta e análise de dados comportamentais para identificar padrões repetitivos nos hábitos dos clientes. A seguir estão os passos principais para implementar uma segmentação por rotina:
1. Coleta de Dados
- Dados transacionais: Registre informações detalhadas sobre quando e como os clientes interagem com o serviço ou produto (ex.: horários de compra, dias da semana, frequência).
- Fontes de dados relevantes:
- Apps e sites: Dados de uso de aplicativos ou visitas a páginas da web.
- Sistemas de ponto de venda (POS): Horários de compra em lojas físicas.
- Logs de interação: Dados de call centers, chatbots, entre outros.
- Dados contextuais: Considere fatores como localização geográfica, condições climáticas ou eventos que possam influenciar o comportamento rotineiro.
2. Identificação de Padrões
- Análise temporal:
- Identifique a periodicidade dos comportamentos (diária, semanal, mensal).
- Exemplo: Um cliente faz compras toda sexta-feira ou utiliza o serviço sempre às 8h da manhã.
- Ferramentas analíticas:
- Estatística descritiva: Use métricas como média, desvio padrão e frequência para identificar padrões.
- Modelos de aprendizado de máquina: Ferramentas como clustering, séries temporais e redes neurais para identificar padrões complexos.
3. Definição de Segmentos
- Tipos de rotinas:
- Diárias: Ex.: clientes que compram café toda manhã.
- Semanais: Ex.: compras semanais de supermercado.
- Mensais: Ex.: pagamento recorrente de assinaturas.
- Segmentos baseados em comportamento:
- Comutadores: Usam o serviço em horários fixos, como transporte para o trabalho.
- Usuários esporádicos: Usam o serviço sem padrão fixo.
- Consumidores de pico: Ativos em horários ou dias específicos, como finais de semana.
- Clusters de comportamento: Use algoritmos como k-means ou DBSCAN para agrupar clientes com rotinas similares.
4. Métricas de Segmentação
- Rotinidade (Routineness): Quantifique o quanto o comportamento do cliente é previsível e estruturado.
- Regularidade: Verifique a consistência de interações em determinados períodos.
- Clumpiness: Identifique clientes que realizam várias interações em curtos períodos.
- Volume: Meça o número total de interações dentro da rotina.
5. Aplicação de Ferramentas Avançadas
- Modelos probabilísticos:
- Use processos de Poisson ou Gaussianos para estimar a rotinidade.
- Avalie componentes rotineiros versus aleatórios em comportamentos.
- Visualização de dados:
- Crie gráficos de calor para observar os horários/dias com maior frequência de interações.
- Mapas temporais ajudam a identificar padrões em grande escala.
6. Validação e Refinamento
- Teste A/B: Valide os segmentos com campanhas ou abordagens diferenciadas.
- Feedback do cliente: Use enquetes ou interações diretas para confirmar a relevância dos padrões identificados.
- Monitoramento contínuo: Atualize os segmentos regularmente para refletir mudanças nos comportamentos.
7. Exemplos de Segmentação por Rotina
- Plataformas de transporte: Identifique passageiros que usam o serviço para deslocamento diário e ofereça pacotes semanais.
- Varejo: Ofereça descontos em produtos comprados regularmente, como alimentos básicos ou artigos de limpeza.
- Streaming: Sugira playlists ou filmes com base em horários comuns de uso.
8. Implementação
- Campanhas direcionadas: Envie mensagens personalizadas nos horários e dias rotineiros.
- Ofertas preditivas: Antecipe as necessidades dos clientes e envie recomendações alinhadas à rotina identificada.
- Melhoria de serviço: Alinhe recursos operacionais (como entregas ou frota) com as demandas rotineiras.
Conclusão
A segmentação por rotina é uma estratégia poderosa que permite às organizações compreenderem e se alinharem aos comportamentos previsíveis de seus clientes. Essa abordagem não apenas facilita a personalização de ofertas e interações, mas também contribui para um planejamento de recursos mais eficiente, otimizando operações e reduzindo desperdícios. Clientes que se sentem atendidos de forma consistente e alinhada às suas necessidades rotineiras tendem a demonstrar maior lealdade, criando uma base de consumidores mais engajada e fiel.
Além disso, a aplicação dessa segmentação pode impactar positivamente os resultados financeiros das empresas, promovendo um aumento na eficiência operacional e no volume de receitas. Ao integrar essa análise comportamental em suas estratégias de marketing e CRM, as organizações conseguem criar experiências mais satisfatórias e fortalecer seu posicionamento competitivo. Assim, a segmentação por rotina não apenas melhora a relação com o cliente, mas também se estabelece como um diferencial estratégico indispensável no mercado atual.
A Jumppi é uma empresa de pesquisa e inteligência de mercado, que baseia suas análises em ciência de dados aplicada a prática, podendo auxiliar sua organização no processo de segmentação por rotina e geração de importantes insights estratégicos para otimizar receita e relacionamento com seus clientes.
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No cenário de negócios atual, em constante transformação, organizações enfrentam um dilema essencial: como construir estratégias que sejam simultaneamente resilientes e adaptáveis, permitindo respostas rápidas às demandas de curto prazo sem perder a visão de longo prazo. Com a convergência de tecnologias digitais, inteligência artificial, personalização e um mercado hiperconectado, uma nova abordagem estratégica está se formando. Este artigo (Estratégia Organizacional Reinventando o Jogo) explora como as organizações podem estruturar uma estratégia eficaz, integrando cinco princípios fundamentais: visão de longo prazo, clareza entre estratégia e execução, flexibilidade adaptativa, foco no cliente e criação de ecossistemas de valor.
1. Visão de Longo Prazo: O Alicerce Estratégico
Uma visão clara e robusta é a fundação de uma estratégia eficaz. Ao estabelecer uma visão de longo prazo, a organização define um destino comum para seus colaboradores, parceiros e clientes, fortalecendo sua identidade e dando propósito a cada ação.
A visão de longo prazo funciona como uma “bússola estratégica” que mantém a organização no curso certo, evitando que decisões de curto prazo comprometam os objetivos finais. Como destacado por Ashkenas, em um ambiente de rápidas mudanças, onde pressões financeiras e sociais podem facilmente desviar o foco, uma visão forte é crucial para manter a consistência. Empresas como Merck e Johnson & Johnson exemplificam essa prática, mantendo-se fiéis a seus propósitos, mesmo diante de pressões intensas.
A visão de longo prazo, além de ser motivadora, serve como um parâmetro decisivo: cada mudança estratégica deve ser avaliada pelo seu alinhamento com a visão organizacional. Esse direcionamento proporciona coesão, foco e resiliência, fatores essenciais para enfrentar desafios futuros sem comprometer a identidade e os valores da empresa.
2. Diferenciar Estratégia de Execução: A Importância da Hierarquia de Ações
Uma estratégia eficaz exige a distinção entre o direcionamento estratégico (o “o quê” e o “porquê”) e a execução (o “como” e o “quando”). Graham Kenny argumenta que muitas organizações cometem o erro de misturar estratégia e operação, criando “planos estratégicos” para áreas funcionais (como marketing e RH), que acabam como meras listas de tarefas operacionais. Essa prática dilui o significado de estratégia, limitando seu potencial transformador e restringindo sua capacidade de criar valor a longo prazo.
Ao manter estratégia e execução em níveis separados, a organização se concentra primeiro na definição de um posicionamento claro e competitivo, seguido pelo planejamento operacional que materializará essa visão. Essa hierarquia permite que as áreas funcionais, como TI e operações, atuem como alavancas para viabilizar a estratégia sem comprometer sua essência. Diferenciar os dois níveis torna possível alinhar as atividades diárias com a direção estratégica, evitando a “miopia estratégica” — onde o foco no presente obscurece o potencial futuro.
3. Flexibilidade e Adaptação: A Habilidade de Responder Rápido e Mudar de Rumo
O mundo atual exige que as organizações desenvolvam uma estratégia flexível e adaptável. A flexibilidade é um diferencial que permite à empresa responder rapidamente a novas demandas, aproveitando oportunidades emergentes sem comprometer seu posicionamento estratégico.
Godin alerta sobre o risco de se apegar a “proxies falsos” — métricas tradicionais que incentivam a manutenção de processos antiquados em detrimento da inovação. Adotar uma mentalidade flexível significa abraçar o incerto e entender que uma estratégia sólida não se trata de um plano garantido, mas sim de um processo de descoberta e adaptação.
Para construir essa adaptabilidade, as empresas precisam cultivar uma mentalidade de “experimentação estratégica,” onde ações de curto prazo são testadas e ajustadas conforme os resultados. Um exemplo é a estratégia de personalização em larga escala de empresas como Chery e QuickParts, que ajustam a produção com base em dados coletados em tempo real dos clientes. Esse modelo reduz riscos e desperdícios ao produzir sob demanda e permite personalizar produtos de acordo com as necessidades dos clientes, mantendo-se relevante e competitivo.
4. Foco no Cliente: A Necessidade de Personalização e Proximidade
Em um mundo digital e centrado no cliente, as organizações que conseguem transformar dados em experiências personalizadas têm uma vantagem competitiva. A era digital permite a criação de clientes “digitais,” que geram informações valiosas continuamente, proporcionando insights que podem guiar a estratégia. Empresas como Amazon, Tesla e Netflix já transformaram essa prática em padrão, usando dados para oferecer experiências personalizadas e antecipar necessidades.
Como Krippendorff e Wolcott argumentam, o conceito de “proximidade” representa essa nova forma de valor, onde as organizações criam produtos e serviços ajustados ao tempo e espaço de cada cliente. Mais do que rapidez, o cliente busca relevância e uma resposta personalizada. Ao centrar a estratégia no cliente, a organização passa a atuar como parceira, oferecendo soluções específicas e mantendo-se em sintonia com as preferências e expectativas individuais.
A personalização em grande escala permite que a organização crie produtos que não atendam apenas a um segmento amplo, mas sim a cada cliente individual, criando lealdade e fortalecendo a marca. No entanto, isso requer tecnologias robustas de coleta e análise de dados, além de processos flexíveis para adaptar produtos e serviços de maneira eficaz.
5. Estratégia de Ecossistema: Colaboração e Valor Compartilhado
Nenhuma organização opera de forma isolada. Construir uma rede de valor integrada, que inclua parceiros, fornecedores e até clientes, é essencial para uma estratégia bem-sucedida. Ao adotar uma visão de ecossistema, a organização não apenas maximiza a eficiência, mas também expande seu poder de inovação, explorando o know-how de seus parceiros para responder às mudanças com maior agilidade.
Ao compartilhar dados e co-desenvolver produtos, como no exemplo da Chery, a organização cria um ambiente onde todos os membros do ecossistema ganham e colaboram para oferecer produtos mais ágeis e customizados. Esse conceito de “centralização no ecossistema” cria uma rede que distribui o risco e amplifica o potencial de inovação, permitindo que todos os parceiros compartilhem os benefícios de uma estratégia orientada para o cliente.
Essa estratégia de valor compartilhado permite que a organização fortaleça relacionamentos e se posicione de maneira mais integrada e sustentável. Em última análise, ela transforma concorrentes em colaboradores, gerando vantagens competitivas que seriam difíceis de alcançar de forma independente.
Conclusão: A Estratégia Organizacional como Caminho para a Sustentabilidade e a Vantagem Competitiva
Uma estratégia organizacional eficaz no século XXI requer a integração de uma visão clara de longo prazo, uma estrutura que diferencie estratégia e execução, a flexibilidade necessária para se adaptar ao novo, um foco no cliente para personalizar experiências e a construção de ecossistemas de valor compartilhado. Esses elementos, em conjunto, criam uma abordagem resiliente e orientada para a inovação que capacita a organização a prosperar em um ambiente complexo e incerto.
Em um mundo onde as mudanças ocorrem a uma velocidade sem precedentes, as organizações que conseguirem balancear consistência e adaptação, personalização e escalabilidade, terão as maiores chances de se destacar. A estratégia deixa de ser um conjunto estático de planos para se tornar uma filosofia de transformação contínua, onde a visão orienta a organização, enquanto a flexibilidade e o foco no cliente garantem sua relevância e competitividade. Assim, com um ecossistema de valor, a organização se torna uma força propulsora não apenas para seus próprios resultados, mas também para o sucesso de todos os parceiros que orbitam ao seu redor.
Os dados, informações e pesquisas são o combustível que impulsiona essa abordagem estratégica integrada, fornecendo insights essenciais sobre o ambiente atual e sinalizando tendências futuras que podem redefinir os caminhos do mercado. Ao analisar dados em tempo real e realizar pesquisas contínuas, as organizações obtêm uma visão aprofundada das preferências dos clientes, dos movimentos dos concorrentes e das mudanças econômicas e sociais que moldam o cenário externo.
Esses insights transformam a incerteza em oportunidade, permitindo que as empresas se antecipem às demandas e se adaptem rapidamente às mudanças. Em um mundo onde decisões informadas são a base de uma vantagem competitiva sustentável, o uso inteligente e ético dos dados torna-se uma ferramenta estratégica indispensável para direcionar o planejamento e alinhar a execução com a visão de longo prazo. Dessa forma, dados e pesquisas não apenas reforçam a compreensão do presente, mas também ampliam a capacidade de projetar o futuro, facilitando a construção de uma estratégia organizacional proativa e resiliente, em sintonia com o que está por vir.
A Jumppi é uma empresa de pesquisa e inteligência de mercado especializada em estudos que alcançam o mais profundo nível analítico, permitindo as organizações acessarem informações estratégias e contextualizaras para uma tomada de decisão segura e assertiva.
Existem inúmeras metodologias e caminhos para inovação, mas aqui partimos do princípio fundamental: a inovação deve focar no cliente. A essência da inovação está em atender às necessidades não supridas das pessoas ou encontrar novas maneiras de satisfazer aquelas que já são atendidas de forma insatisfatória pelos produtos ou serviços existentes.
Sob a perspectiva do cliente, ele sempre espera soluções mais eficazes, rápidas e acessíveis para resolver seus problemas em comparação com as opções atuais. Portanto, ao inovar, o foco deve estar nas necessidades não atendidas ou mal atendidas pelo mercado.
A metodologia desenvolvida por Barsoux, Wade e Bouquet propõe um framework de inovação em quatro partes:
- A Estratégia do Microscópio
- A Estratégia do Panorama
- A Estratégia do Telescópio
- A Estratégia do Calidoscópio
Cada uma dessas abordagens conecta empresas e profissionais de inovação aos usuários, oferecendo uma forma dinâmica de identificar necessidades não atendidas e gerar insights valiosos para o desenvolvimento de produtos e serviços que melhor atendam ao mercado.
A Estratégia do Microscópio
O primeiro passo para se conectar com a realidade dos usuários é mergulhar nas suas experiências, ajudando a discernir necessidades ou inquietudes que métodos convencionais de pesquisa, como grupos focais, não conseguem captar.
Aqui, a chave está em observar e interagir com os usuários em seu ambiente natural, enquanto usam um produto ou vivenciam um serviço. Esse processo de observação não exige uma estrutura formal de pesquisa, mas sim uma abordagem mais informal e conectada à realidade dos usuários.
Um exemplo é o da Intel, que, através de antropólogos, observou gamers em suas casas para entender melhor suas paixões, frustrações e necessidades. Os resultados ajudaram os engenheiros da Intel a desenvolver chips mais adequados às demandas desse público.
As estruturas organizacionais muitas vezes afastam engenheiros e profissionais de marketing dos clientes, dificultando o processo de inovação e a resolução de problemas sob a ótica do consumidor.
A Estratégia Panorâmica
A estratégia panorâmica busca analisar dados periféricos, incluindo usuários não convencionais ou até mesmo não usuários. Inicialmente, dados de reclamações, erros e problemas relatados podem ser úteis para orientar o processo de observação e interação.
Por exemplo, ao investigar as altas taxas de abandono de um aplicativo, pode-se obter insights valiosos para aprimorá-lo ou até mesmo reformulá-lo.
Um caso interessante é o do engenheiro australiano Keith Alexander, que, ao tentar comprar um trampolim para sua filha, descobriu que o número de acidentes com esse brinquedo era alto. Ao analisar mais profundamente, percebeu que os principais problemas estavam nas molas e na estrutura metálica, além da falta de proteção. Com isso, ele projetou um trampolim sem molas e com uma malha de proteção, transformando o mercado.
A Estratégia do Telescópio
“Se você continuar olhando e interagindo com as mesmas pessoas, no mesmo contexto, com as mesmas ferramentas, corre o risco de perder oportunidades fora da caixa.”
Muitas descobertas surgem ao observar usuários “fora da curva”, ou seja, usuários marginais (aqueles que não são o público-alvo da empresa, mas compram e usam seus produtos), extremos e até não usuários.
Um exemplo clássico é a escova de dentes elétrica, que foi inicialmente desenvolvida para pessoas com habilidades motoras reduzidas, mas se tornou popular entre milhões de consumidores.
A Lego também traz um exemplo interessante. Durante anos, a empresa negligenciou a opinião de fãs adultos, considerando-os uma “fonte de irritação”. Ao mudar sua visão, a Lego desenvolveu produtos mais complexos para esse público, que se tornaram um sucesso, vendidos por valores superiores aos kits tradicionais.
A Estratégia do Caledoscópio
A estratégia do calidoscópio pode ser a mais desafiadora, pois exige a capacidade de escapar dos padrões e ampliar a visão além do mercado tradicional.
As estratégias organizacionais ajudam a guiar os colaboradores, mas também podem limitar sua criatividade. Para que essa estratégia funcione, é essencial envolver no processo grupos variados, como entidades reguladoras e outros atores de mercado não convencionais, analisando suas perspectivas sobre o setor e identificando oportunidades de inovação.
Um exemplo é o da Volvo, que sempre foi referência em segurança veicular. Ao identificar um novo grupo nas ruas — os ciclistas —, a Volvo desenvolveu sensores para detectar ciclistas, sistemas de frenagem automática e airbags externos, contribuindo para a segurança desses usuários.
Outro caso interessante foi uma pesquisa realizada pela Jumppi para a Ambev, em parceria com a Fundação Dom Cabral. O estudo inicialmente focou na otimização do processo de entrega, criando uma base de dados robusta sobre o tempo gasto em cada atividade. No entanto, foi a observação em campo e a participação em grupos focais que revelaram boas práticas inesperadas, resultando na revisão de políticas e procedimentos que dobraram a economia inicialmente prevista.
Conclusão
Estar próximo do cliente é essencial para desenvolver produtos e serviços ajustados às suas necessidades e desejos. Embora o mundo esteja cada vez mais digital, o marketing atual valoriza o contato humano, oferecendo experiências diferenciadas aos clientes.
Da mesma forma, a inovação precisa ser co-criada com os clientes. As estratégias de Barsoux, Wade e Bouquet não seguem uma sequência rígida; é o profissional de inovação que define o caminho inicial. Para que essas metodologias sejam eficazes, é preciso olhar para o mercado sem preconceitos, observando comportamentos e extraindo elementos de ideação, mesmo que simples.
A combinação dessas estratégias amplia a compreensão e valida insights. Conhecimentos em etnografia, metodologias ágeis como design thinking, ou até mesmo a abordagem do Job-To-Be-Done, são valiosos para direcionar a inovação.
A Jumppi é uma empresa de pesquisa e inteligência de mercado, com mais de 20 anos de experiência, apoia empresas em seus processos de inovação. Converse com nossos analistas e descubra como podemos ajudar sua empresa a inovar em produtos e serviços.